Domingo, 9 de março de 2008, 10h40
The New York Times
Escolas pagam alunos pelo bom desempenho.
Por Jennifer Medina
Os alunos de quarta série estavam se remexendo em suas carteiras, e esperavam ansiosamente os prêmios. Em poucos minutos, eles descobririam quanto dinheiro haviam ganho pelas notas que obtiveram em recentes exames de leitura e matemática. Alguns deles receberiam perto de US$ 50 por bom desempenho nos exames padronizados, o que representa uma pequena fortuna para muitos dos alunos da Escola Pública 188, no Lower East Side de Manhattan.
Quando os prêmios foram distribuídos, Jazmin Roman estava ansiosa para comemorar os US$ 39,72 que lhe couberam. Cochichou com a amiga, Abigail Ortega, para saber quanto ela havia recebido. Abigail respondeu, com um sussurro quase inaudível: "US$ 36,87". Edgar Berlanga deu um soco no ar para celebrar seu prêmio de US$ 34,50.
As crianças não sabiam que sua professora, Ruth Lopez, também sairia beneficiada financeiramente de suas realizações. Caso os alunos demonstrassem avanço ponderável em seus resultados nos exames estaduais, cada professor da escola receberia bonificação até US$ 3 mil.
Em todo o país, distritos escolares estão implementando a idéia de que dinheiro pode ser usado para incentivar melhor desempenho, seja em forma de bonificações para professores e dirigentes ou prêmios monetários e outras recompensas para os alunos. A cidade de Nova York, que opera o maior sistema de ensino público dos Estados Unidos, está na vanguarda dessa tendência, e mais de 200 escolas estão testando formas diferentes de incentivo. Em mais de uma dúzia de escolas, professores, alunos e dirigentes podem receber recompensas em dinheiro com base nos resultados dos estudantes nos exames padronizados.
Cada uma dessas escolas se tornou um instrumento para testar se, como propõe o prefeito Michael Bloomberg, recompensas monetária tangíveis podem reverter a situação de uma instituição. Será que o dinheiro pode levar os alunos a tornar o sucesso acadêmico interessante aos olhos de alunos que o desdenham? Será que os professores pressionarão uns aos outros por melhor desempenho para que a escola conquiste bonificações?
Até o momento, o governo de Nova York já distribuiu mais de US$ 500 mil a 5.237 alunos de 58 escolas, como recompensa por alguns dos 10 exames padronizados que constam do calendário escolar do ano. As escolas, que podiam escolher se participariam ou não do programa, se localizam em todas as áreas da cidade.
"Não estou dizendo que isso vá resolver qualquer problema", disse o Dr. Roland Fryer, economista da Universidade Harvard que criou o programa de incentivo a alunos. ‘Mas digo que vale a pena tentar. O que precisamos é tentar criar aquela fagulha’.
No país, distritos escolares vêm testando diversas abordagens de incentivo. Alguns estão oferecendo vales-presente, refeições no McDonald’s ou festas para toda uma classe em uma pizzaria. Baltimore está planejando pagar os estudantes problemáticos que consigam elevar seus resultados nos exames padronizados.
Os críticos desses esforços alegam que as crianças deveriam ser inspiradas a aprender por amor ao conhecimento, e não por dinheiro, e questionam se os prêmios servirão de fato para promover realizações. Antecipando exatamente essas objeções, Nova York cautelosamente restringiu as verbas do programa a dinheiro que conseguiu arrecadar em doações privadas, e não incluiu verbas públicas, o que ajudou a evitar algumas das controvérsias surgidas quanto ao programa de Baltimore, que utiliza dinheiro público.
Alguns dirigentes escolares adeririam sem hesitar aos programas de recompensa. Virginia Connelly, diretora da Junior High School 123, no distrito de Soundview, Bronx, vem testando sistemas de incentivo há anos, como prêmios por bom comportamento, assiduidade, e boas notas. Os prêmios, distribuídos em uma moeda de fantasia criada pela escola, podem ser usados para a compra de produtos na loja que o colégio opera. ‘Nós estamos competindo com as ruas’, diz Connelly. "Os alunos podem sair à rua e ganhar US$ 50 por dia, ilegalmente, sempre que quiserem. É preciso fazer alguma coisa para competir contra isso".
Já Barbara Slatin, a diretora da escola 188, diz que inicialmente era cética com relação a pagar os alunos pelo bom desempenho. Os estudantes, muitos dos quais vivem nos conjuntos de habitação para moradores de baixa renda localizados ao longo da Avenida D, no bairro, certamente saberiam como usar o dinheiro, mas sua preocupação era enviar a mensagem errada a eles. "Não queria vincular o conceito de sucesso acadêmico ao dinheiro", disse.
Mas, depois de uma apresentação de Fryer, ela se deixou convencer. "Nós sempre dizemos que faremos o que for preciso, e se é isso que precisamos, eu participarei", disse. Em 1996, a escola 188 foi considerada como ineficiente pelo Departamento Estadual da Educação, mas o desempenho da instituição vem melhorando dramaticamente ao longo dos últimos 10 anos. No final do ano passado, ela recebeu nota A no boletim das escolas da cidade. Mas menos de 60% dos alunos foram aprovados no exame padronizado de matemática, em 2007, e menos de 40% deles foram aprovados no exame padronizado de leitura.
Cerca de 90% das 200 escolas convidadas a optar ou não pela adesão ao programa aderiram, por decisão dos corpos docentes. Os professores veteranos dizem que o programa é bom, mas que não pensam muito a respeito. Os mais jovens parecem mais positivos, afirmando que a bonificação é uma rara chance de obter recompensas adicionais. Slatin e seus professores demorarão meses a saber se receberão uma bonificação, mas os resultados iniciais dos exames parecem promissores. "Queremos acreditar no sucesso, mas isso me deixa ansiosa", afirma Slatin. "Não estamos acostumados a ver resultados de exames tão bons".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
Fonte: Terra/Notícias/Educação (http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI2663747-EI8266,00.html), acessado em 12/03/2008.
The New York Times
Escolas pagam alunos pelo bom desempenho.
Por Jennifer Medina
Os alunos de quarta série estavam se remexendo em suas carteiras, e esperavam ansiosamente os prêmios. Em poucos minutos, eles descobririam quanto dinheiro haviam ganho pelas notas que obtiveram em recentes exames de leitura e matemática. Alguns deles receberiam perto de US$ 50 por bom desempenho nos exames padronizados, o que representa uma pequena fortuna para muitos dos alunos da Escola Pública 188, no Lower East Side de Manhattan.
Quando os prêmios foram distribuídos, Jazmin Roman estava ansiosa para comemorar os US$ 39,72 que lhe couberam. Cochichou com a amiga, Abigail Ortega, para saber quanto ela havia recebido. Abigail respondeu, com um sussurro quase inaudível: "US$ 36,87". Edgar Berlanga deu um soco no ar para celebrar seu prêmio de US$ 34,50.
As crianças não sabiam que sua professora, Ruth Lopez, também sairia beneficiada financeiramente de suas realizações. Caso os alunos demonstrassem avanço ponderável em seus resultados nos exames estaduais, cada professor da escola receberia bonificação até US$ 3 mil.
Em todo o país, distritos escolares estão implementando a idéia de que dinheiro pode ser usado para incentivar melhor desempenho, seja em forma de bonificações para professores e dirigentes ou prêmios monetários e outras recompensas para os alunos. A cidade de Nova York, que opera o maior sistema de ensino público dos Estados Unidos, está na vanguarda dessa tendência, e mais de 200 escolas estão testando formas diferentes de incentivo. Em mais de uma dúzia de escolas, professores, alunos e dirigentes podem receber recompensas em dinheiro com base nos resultados dos estudantes nos exames padronizados.
Cada uma dessas escolas se tornou um instrumento para testar se, como propõe o prefeito Michael Bloomberg, recompensas monetária tangíveis podem reverter a situação de uma instituição. Será que o dinheiro pode levar os alunos a tornar o sucesso acadêmico interessante aos olhos de alunos que o desdenham? Será que os professores pressionarão uns aos outros por melhor desempenho para que a escola conquiste bonificações?
Até o momento, o governo de Nova York já distribuiu mais de US$ 500 mil a 5.237 alunos de 58 escolas, como recompensa por alguns dos 10 exames padronizados que constam do calendário escolar do ano. As escolas, que podiam escolher se participariam ou não do programa, se localizam em todas as áreas da cidade.
"Não estou dizendo que isso vá resolver qualquer problema", disse o Dr. Roland Fryer, economista da Universidade Harvard que criou o programa de incentivo a alunos. ‘Mas digo que vale a pena tentar. O que precisamos é tentar criar aquela fagulha’.
No país, distritos escolares vêm testando diversas abordagens de incentivo. Alguns estão oferecendo vales-presente, refeições no McDonald’s ou festas para toda uma classe em uma pizzaria. Baltimore está planejando pagar os estudantes problemáticos que consigam elevar seus resultados nos exames padronizados.
Os críticos desses esforços alegam que as crianças deveriam ser inspiradas a aprender por amor ao conhecimento, e não por dinheiro, e questionam se os prêmios servirão de fato para promover realizações. Antecipando exatamente essas objeções, Nova York cautelosamente restringiu as verbas do programa a dinheiro que conseguiu arrecadar em doações privadas, e não incluiu verbas públicas, o que ajudou a evitar algumas das controvérsias surgidas quanto ao programa de Baltimore, que utiliza dinheiro público.
Alguns dirigentes escolares adeririam sem hesitar aos programas de recompensa. Virginia Connelly, diretora da Junior High School 123, no distrito de Soundview, Bronx, vem testando sistemas de incentivo há anos, como prêmios por bom comportamento, assiduidade, e boas notas. Os prêmios, distribuídos em uma moeda de fantasia criada pela escola, podem ser usados para a compra de produtos na loja que o colégio opera. ‘Nós estamos competindo com as ruas’, diz Connelly. "Os alunos podem sair à rua e ganhar US$ 50 por dia, ilegalmente, sempre que quiserem. É preciso fazer alguma coisa para competir contra isso".
Já Barbara Slatin, a diretora da escola 188, diz que inicialmente era cética com relação a pagar os alunos pelo bom desempenho. Os estudantes, muitos dos quais vivem nos conjuntos de habitação para moradores de baixa renda localizados ao longo da Avenida D, no bairro, certamente saberiam como usar o dinheiro, mas sua preocupação era enviar a mensagem errada a eles. "Não queria vincular o conceito de sucesso acadêmico ao dinheiro", disse.
Mas, depois de uma apresentação de Fryer, ela se deixou convencer. "Nós sempre dizemos que faremos o que for preciso, e se é isso que precisamos, eu participarei", disse. Em 1996, a escola 188 foi considerada como ineficiente pelo Departamento Estadual da Educação, mas o desempenho da instituição vem melhorando dramaticamente ao longo dos últimos 10 anos. No final do ano passado, ela recebeu nota A no boletim das escolas da cidade. Mas menos de 60% dos alunos foram aprovados no exame padronizado de matemática, em 2007, e menos de 40% deles foram aprovados no exame padronizado de leitura.
Cerca de 90% das 200 escolas convidadas a optar ou não pela adesão ao programa aderiram, por decisão dos corpos docentes. Os professores veteranos dizem que o programa é bom, mas que não pensam muito a respeito. Os mais jovens parecem mais positivos, afirmando que a bonificação é uma rara chance de obter recompensas adicionais. Slatin e seus professores demorarão meses a saber se receberão uma bonificação, mas os resultados iniciais dos exames parecem promissores. "Queremos acreditar no sucesso, mas isso me deixa ansiosa", afirma Slatin. "Não estamos acostumados a ver resultados de exames tão bons".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
Fonte: Terra/Notícias/Educação (http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI2663747-EI8266,00.html), acessado em 12/03/2008.
2 comentários:
Ao contrário da proposta do governo federal brasileiro, noticiada em março do ano pretérito (2007), o exemplo norte-americano incentiva monetariamente não só o aluno, mas principalmente o professor e a instituição, por meio de um critério de desempenho, não simplesmente com a análise da freqüência do aluno (como se suscitou na proposta a ser implantada no Brasil).
Como disse antes, não estou certo de que um incentivo pecuniário seja a melhor das alternativas, principalmente porque o que estaria alimentado um melhor desempenho do aluno não seria o desejo de aprender. Todavia, pelo menos para mim, inegável que o critério do “desempenho” é infinitamente melhor que o da “freqüência” (conforme proposta a ser implantada no Brasil).
Att.,
C. Machado
É isso aí C Machado. Se o aluno aprende, o que há de ruim? Verás que minha opinião é semelhante! Abraços...Hélio
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